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domingo, 19 de maio de 2019

Coach , Chaves e a Filosofia



- Mamãe o sr. Madruga vai me cochear (Kiko em sua ingenuidade feliz de ser um coachee)

- Já fizeram calistenia?
- Pois não quiseram nem com um suquinho de laranja
(diálogo entre o professor e o coach, talvez se fosse um oleozinho de coco daria mais resultado)

É interessante observar essa abundância (palavra bastante adotada por eles) de coachs e uma interessante resposta diante desse fenômeno contrariando e de certa forma contestando a abordagem e os rumos que a dita profissão tomou. 
O coach é sintoma de um neoliberalismo, de uma vida em que tudo é visto como um jogo a se ganhar, da noção do empresário de si mesmo e de uma vida voltada a se gerir tal qual uma empresa e nisso entra muitos aspectos da vida: os relacionamentos precisam ser geridos de modo a se tornar um belo investimento, a saúde da mesma forma e a vida profissional nem se fala, é o terreno preferido de uma abordagem coach. Apesar dessa perspectiva apresentada, o objetivo da postagem não é apenas criticar tal situação, até porque, apesar dos pesares, é possível vislumbrar e intuir que há bons profissionais que realmente buscam auxiliar o próximo e conseguem transcender uma lógica apenas de sucesso material em seu trabalho.
O caso é que o coach é simplesmente um treinador, tal qual vimos no fatídico episódio do futebol americano. E o mais curioso é que temos como coach alguém sem o mínimo preparo, um pobre diabo, um joão ninguém, digo, o Seu Madruga. Em termos atuais, Seu Madruga representa o anti coaching, o próprio programa em si, na sua estética de uma humilde vila representa um certo antídoto e oposição ao coach. 
No episódio temos o começo de uma desmotivação geral de Chaves e Chiquinha até o momento que Seu Madruga (coach) começa a treiná-los para o esporte. Após alguns problemas, a animação com uma boa jogada é tanta que o coach tem problemas com a comemoração dos coachees e é infelizmente hospitalizado. Não acho que seja preciso tanto, mas é interessante notar que após inúmeros workshops, pagamentos e afins, existe um momento de superação, ou pelo menos deveria existir, embora na vila do Chaves nem coach, nem coachees alcançaram o sucesso absoluto.
Ahhh mas e a filosofia? Onde está a filosofia? Já vi relatos de auto-intitulados filósofos que são coachs, porém não são deles que quero falar. Platão já foi um coach. Sim, por mais que seja com razão espinafrado pela academia por falar tal blasfêmia e cometer esse anacronismo, há uma parte da vida de Platão em que o filósofo foi até Siracusa (antiga Sicília) auxiliar por três vezes a família que governava o local (Dionísio I e II) e ao contrário do ideal coaching foi extremamente mal sucedido. Não foi por falta de tentativa, de se esforçar, de foco força e fé. E olha que estamos falando de Platão. Talvez a verdadeira tirania de nosso tempo e que precisa de coach não seja o que boa parte dos que procuram por tal serviço acham que é, ao mesmo tempo a filosofia talvez precise de um certo treinamento, por mais que se busque fugir de seus jargões e palavras difíceis, a filosofia é também composta por ergón (trabalho), ou seja, é preciso de um certo esforço que foge de fórmulas prontas e fáceis para conseguir exerce-la. 
Por sorte, ao contrário de Seu Madruga, Platão mesmo correndo grande perigo conseguiu fugir ileso.