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sábado, 21 de setembro de 2019

Didático

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Xinfurínfula como superação da arte

- Esse é meu
- Isso eu sei , mas o que significa.
- é uma xinfurínfula.
- E isso que coisa é?
- Uma coisa que eu inventei, ficou idêntica não é?
- Ahh sim, ficou igualzinha, vou te dar 6.
- 6 por que? Se ficou idêntica devia dar 10.
(Diálogo entre Chaves e professor Girafales)

A arte como representando o real ou como uma forma de mostrar a realidade, sofreu um forte abalo com o advento das novas tecnologias como a fotografia e posteriormente o cinema. Mas é possível pensar em filosofia através desse fenômeno tão simples como "tirar" uma foto? Desde o episódio de Don Ramón fotógrafo, sabemos o quanto é difícil fazer uma foto. E se trata disso mesmo, a foto é construída, não há um decalque que é retirado da realidade, a foto é feita, construída. Há todo um aspecto de pose, pensamento e porque não dizer...arte. O real é infotografável. Se uma árvore cai (ou pinho,  aqueles do boliche), e não tiver ninguém para ouvir ela faz barulho? 
Para além de paradoxos famosos, o real, a realidade, a famosa "coisa em si" está em questão de ser plenamente conhecida desde Kant e até antes dele. Afinal, seria possível conhecer a realidade em si mesma? Temos acesso aos fenômenos (som da árvore caindo por exemplo) mas a realidade total e concreta em que há toda uma infinidade de possibilidades nos escapa. A questão que se coloca é epistemológica, se seria possível conhecer de fato as coisas em si mesmas e não por meios de percepções que nos chegam através dos sentidos. 
E o que isso tem a ver com a arte e fotografia?
Diante de qualquer foto somos enganados. As pessoas representam um personagem nos retratos. A fotografia é feita por pessoas que são dominadas inconscientemente por modelos a serem reproduzidos ou serem evitados, por pulsões e desejos. A fotografia não dá a realidade mas pode questiona-la. A fotografia é a arte do imaginário por excelência, as vezes ela capta as aparências as vezes invisíveis ao olho humano e não a simples realidade. Ela é mais imaginação do que visão.   O real não pode ser apresentado como tal pela fotografia, essa impossibilidade e essa falta constituem o valor da fotografia. Para Kant o homem só apreende e só pode conhecer os fenômenos e não a coisa em si. A fotografia é sempre fotografia de um fenômeno e não da coisa em si. 
E o que isso tem a ver com Chaves?
Nesse curto diálogo, Chaves está liberto da prisão que se exerceu durante muito tempo às artes de representar o real. Com as novas tecnologias o espaço para uma representação fidedigna da realidade se deslocou para a arte abstrata. E não se poderia dizer que se ficou idêntica? O "10" seria merecido tanto para uma Xifurinfula como para um desenho perfeito que imitaria uma foto.

Fonte: SOULAGES, François. Estética da fotografia: perda e permanência. Trad. Iraci D. Poleti e Regina Salgado Campos. São Paulo: Senac São Paulo, 2010