- Não temos biscoitos
A frase é comum no meio internético. Acompanhada também de uma pergunta, quer um biscoito? Geralmente a situação que acompanha a fala é a de alguém que supostamente quer prêmios seja por se comportar de maneira correta (não preconceituosa), seja por buscar aprovação de outras pessoas alheias e até contrárias aos seus interesses (não é muito citado mas o exemplo do trabalhador que faz discurso a favor de patrão e de seus interesses é bem visível).
Gostaria de dizer que na filosofia não temos biscoitos mas não sei dizer se isso é verdade. Aliás, não necessariamente quanto ao "ter biscoitos", e sim quanto saber se na filosofia não existem pessoas buscando e querendo aprovação. Vinte e cinco séculos de análise e podemos tirar muitos exemplos e contra-exemplos para provavelmente no fim não ganhar um mísero biscoito. Por exemplo, os próprios sofistas seriam exemplos de pessoas que "queriam biscoitos" , ao mesmo tempo se critica a noção de pretensa superioridade dos filósofos diante dos sofistas por não cobrarem por seus serviços ou mesmo por estarem acima de todos em uma torre de marfim de conhecimento. Eu mesmo escrevendo textos , estaria nessa busca por aprovação? Ou mais ainda , o receio que impedem muitos de escrever pela intensa auto-cobrança? Na academia de maneira geral enxergamos essa busca por esse produto farináceo?
Na história da filosofia temos o período medieval (igreja), o período moderno (Estados) e o período contemporâneo que bem...não se sabe muito bem mas tem mais de um campo de atuação. Mesmo que contestável se os filósofos mais conhecidos do período medieval eram subservientes à igreja , não deixa de ser algo marcante no período. Duvido muito se eles se cutucavam, tal qual agora, falando entre si: "- Fulano só fala em favor da igreja, tá querendo biscoito só pode". Ou mesmo no começo do período moderno:" - Maquiavel tá é atrás de biscoito do rei." As vezes a fala acusada de condicionada a busca por aprovação, no fim seja uma fala que é apenas reflexo de uma época, ou ainda simplesmente um não ir pelo caminho fácil da "babaquice".
No episódio em questão Chaves se revolta pela pergunta incessante quanto aos biscoitos, talvez a triste realidade é que: não tem biscoito.
Outra perspectiva possível é que o filósofo , aquele que se dedica ao estudo da filosofia, na grande maioria das vezes está em uma posição de resistência. Contra o status quo, longe de qualquer promessa (inclusive financeira, diria até que principalmente) , questionando tudo e a todos, nesse ponto podemos dizer que apesar dos pesares, na filosofia não temos nem queremos biscoitos.
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