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domingo, 16 de dezembro de 2018

Byung-Chul Han e Chaves: o descanso na repetição

Um "produto" não tão propagado mas que é produzido em larga escala nesse mundo atual do século XXI, é o cansaço, nossa sociedade produz cansaço amplamente, não a toa já se fala em uma economia da atenção, ou seja, entre o bombardeamento de nosso psiquismo feito pela propaganda e publicidade, está o esforço contínuo desses meios por captar o bem precioso da nossa atenção. É preciso entender para talvez buscar superar esse processo de alguma forma, em uma perspectiva de defesa de nosso psiquismo e atenção cognitiva tão afetados nesse processo.
Este processo, não envolve apenas a publicidade, nas redes sociais é constante o apelo e cooptação do nosso status neurológico, seja por curtir coisas ou até mesmo compartilhar coisas que inclusive não são do nosso agrado, porém alcançaram nossa atenção pelo absurdo que representam. No trabalho o empregado precisa estar constantemente "mobilizado", são criadas expressões como "zona de conforto", como algo que é necessário não entrar de modo algum por quebrar com a preocupação constante com desempenho. 
O filósofo sul-coreano que vive na Alemanha, Byung-Chul Han, descreve de forma crítica a sociedade atual, no que ele chama e tem como título de livro: A sociedade do cansaço. Nesse contexto o que impera segundo o autor é uma "violência neural". O fenômeno abordado se distancia de uma repressão dos corpos, da biopolítica foucaultiana e se inscreve em um processo psicopolítico, ou seja, o espaço de controle se inscreve e alcança os níveis dos neurônios, da mente, da atenção e percepção. 
Um efeito principal é a depressão, dentro de um espaço em que se busca o máximo de desempenho, a não obtenção de desempenho em um nível cada vez maior leva a depressão. Embora abordado aqui de maneira sintética e bem simples (diferente do autor), a suposta simplicidade desse pensamento é difícil de ser contestada, afinal, se fará um esforço para se mudar a situação, ou a técnica já dominou tanto a ponto de não mais servir o ser humano? Porque dentro de uma possível crítica que enxerga esse processo perceptivo como natural e adaptado a isso, e uma interação e benefícios maravilhosos, há claramente algo errado. Como um cérebro (este irracional) resolve produzir mais ou menos dopamina, dentro de toda explicação científica que envolve a depressão em um nível de química do cérebro? 
E o que isso tem a ver com Chaves? Pois sim, explico, ou tento explicar. Dentro de um contexto brasileiro, em que muitos episódios do seriado se perderam, devido a venda por lote da emissora televisa, em conjunto com algumas perdas devido a incêndios e outros problemas no SBT, tudo isso gerou uma intensa repetição dos episódios. E nem por isso houve uma queda da audiência, em certo nível acaba sendo um movimento contrário a atualidade, que na busca por novidade produz um conteúdo impossível de acompanhar. Alguns dados dizem que em um minuto se produz 400 horas de conteúdo no youtube, em um dia e meio existe um século de conteúdo só no youtube. Em uma busca constante de novidade é interessante pensar em um movimento contrário chavístico, de repetição, há um certo descanso, um certo alívio contemplativo. O rir da mesma piada, em outra ocasião que se assiste, é um certo melhoramento, a percepção tranquila e relaxada pode produzir um aprimoramento, certas sutilezas podem se clarificar e toda experiência ir se intensificando a medida que não se está sob o signo da novidade, da obrigação de se manifestar e interagir, da simples reação. 
Quanto ao "ruminar" dito por Nietzsche,  ou mesmo a contemplação, em seu livro, Chul Han explica que o refinamento intelectual não se faz na velocidade, um animal que pensa em termos de sobrevivência vive condicionado a velocidade e reação rápida. Interessante notar que muito da fala atual de "viver no presente", essa espécie de mantra, também não é o caminho proposto pelo filósofo sul coreano e nem mesmo da filosofia. Não se trata de uma receita pronta e individual, não é uma proposta de consumo de séries que repetem, não é uma fórmula, mas a reflexão de um problema, coisa que entra em rota de colisão com uma sociedade ávida por soluções mas que não sabe qual é de fato o problema.  

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/cultura/1517989873_086219.html
https://www.youtube.com/watch?v=5CQ5-NMzG8s (a informação de que o youtube produz 400 horas de conteúdo novo por minuto, está nos 12:53)
https://en.wikipedia.org/wiki/Attention_economy

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